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A aceitação faz parte da cura

Há um entendimento equivocado de que aceitar o momento atual como ele se apresenta, ou melhor, aceitar a existência de uma dificuldade ou doença, em nossas vidas, é sinônimo de fraqueza, vexação ou inferioridade. Ou até pior: aceitar a doença, é se entregar a ela, ser vencido, deteriorado.


Todas essas ideias, mesmo que a nível inconsciente, geram um escudo de resistência e negação intensa. Tenta-se de toda e qualquer maneira esconder e esquivar da questão para evitar um suposto sofrimento.


Por que falar nesse assunto? Porque é impossível modificar qualquer coisa suprimida, reprimida ou negada. É uma tentativa ilusória e incoerente inferir que negando algo, esse algo deixará de existir. Só conseguimos modificar aquilo que, primeiramente, assumimos que precisa ser trabalhado. É como se a aceitação fosse uma permissão formal para que mudanças necessárias possam acontecer. Ao contrário disso, se não há aceitação é gerado um comando de que está tudo bem e não há nada para ser modificado. E assim será.


Carl Gustav Jung disse “o que você resiste, persiste”. Observo duas possibilidades de interpretação para essa frase:

1- As tentativas de fuga e negação não anulam ou solucionam o problema

2- Lutar contra, colocar força ou confrontar aumenta a problemática



1- Como já foi dito, é uma ilusão pensar que jogando qualquer problema para “debaixo do tapete” ele irá desaparecer. Pelo contrário, a dificuldade não trabalhada tende somente a aumentar até chegar ao ponto em que, pela sua intensidade e incômodo, irá convidar, talvez por um meio não já muito agradável, a enxergá-la e socorrê-la.

Uma vez escutei uma estória que me fez refletir profundamente: um cachorro estava chorando sem parar de dor por ter deitado em cima de um prego. Então, foi perguntado ao dono dele o por quê do cachorro não se levantar e sair de cima do prego. O dono respondeu: porque ele não está sentindo dor o suficiente.

Até que ponto iremos esperar que algo nos incomode?



2- A luta contra algo chega a se equiparar a uma batalha interna. Nesse ponto a dificuldade já é bem evidente aos olhos de qualquer um, mas há aquela força intensa em tentar não deixar transparecer o que está ocorrendo. Já não é mais somente uma tentativa de “empurrar a situação com a barriga” é uma guerra.

Com esse arsenal de ataque, é gerado no organismo, forte tensão, ansiedade, raiva, indignação ou depressão.


Partindo-se do princípio que toda guerra é um combate, ninguém cede facilmente e a tendência é que o inimigo se muna e cresça, cada vez mais, para evitar perder o confronto. Falei sobre isso no texto: Hábitos x saúde x doença


Uma nova perspectiva para solução é a aceitação. E como seria isso? Quando encaramos nossas dificuldades como amigas. Parece, mas não é uma ideia insana acolher um “inimigo”. Parece insanidade pela falta de compreensão de que, somente pela aceitação, é possível verificar o que se passa conosco, o que podemos fazer para melhorar, a resignação se torna mais fácil, menor é o sofrimento e há uma coexistência pacífica com a dificuldade/doença. Essa coexistência pacífica é poderosa para a cura. O organismo integral se abre para a ação e efetividade de todas as possibilidades. Não há tensão, apenas solta-se a dificuldade/doença para que a mesma flua em boa resolutividade.



Esse texto inspirador, abaixo, foi escrito por uma paciente/amiga. O caso dela é dito como incurável. O que estamos observando, na evolução do tratamento, é o contrário do que foi pré-determinado. Está evoluindo muito bem.

Ela vive sem revolta, com amor, trabalha, busca os sonhos, movimenta, dança. Espero que sintam a mesma motivação que sinto toda vez que o leio.




“A vida é uma caixinha de surpresas. Não sabemos o que o futuro nos reserva, por isso é tão importante nos atentarmos para o presente.


Com um aninho de idade fui diagnosticada com uma doença degenerativa da retina. Na época nada mudou para mim. Contudo, para meus pais mudou muita coisa. É como se tivessem recebido uma sentença de que sua filha caçula a qualquer momento poderia vir a ficar sem enxergar. Apesar do receio de que isso poderia acontecer mais cedo ou mais tarde, levamos uma vida normal, até eu completar 18 anos.


Comecei a sentir as mudanças no meu campo visual. Dormi enxergando de um jeito e acordei vendo de outro. Uma neblina tomou conta dos meus olhos e passei a ver tudo muito embaçado. Uma mistura de sentimentos tomou conta de mim. Como seria minha vida agora?


Realmente eu não sabia lidar com tudo que estava acontecendo. Tinha planos de tirar carteira de motorista que mais pra frente teve de ser substituída por aprender a andar com uma bengala, a escrita tradicional teve de ser substituída pelo braile. E com tantas mudanças, fui obrigada a aceitar minha nova condição, pois caso contrário, as coisas seriam ainda mais difíceis.


Admito que todo esse processo foi complicado. Vergonha de pedir ajuda vergonha de sair com uma bengala na rua, vergonha de dizer que não enxergava vergonha, medo, vergonha, medo, uma sensação de fragilidade e dependência total. Mas aos poucos fui sendo dominada por um desejo maior. Um desejo de superação, de ser diferente, de fazer diferente, de mostrar pra todos que eu também era capaz de ser feliz. E esse desejo tornou-se superior a vergonha e os medos.


A minha força interior somada com a ajuda das pessoas me mostraram o quanto a vida é boa e que não podemos perder tempo alimentando esses "monstros" internos. Aprendi a reconhecer que a principal vilã da minha história era eu mesmo, e que somente eu poderia inverter os papéis. Aprendi que todos temos limitações, ninguém é perfeito e que estamos nessa caminhada juntos, para ajudar e aprender com os outros. Aprendi que devemos valorizar mais as pessoas boas e não dar tanta importância para aquelas que nos magoam, sejam com palavras ou atitudes. Aprendi que posso ser feliz mesmo com uma limitação visual e que isso não me impede de estudar, trabalhar, passear e me divertir. Aprendi a encarar as dificuldades com desenvoltura e bom humor. Aprendi a ser mais leve e a sonhar mais. Aprendi que o presente é mágico e que devemos viver intensamente. Aprendi que o medo e a vergonha nos impedem de evoluir e até mesmo nos curar. Aprendi que a cura vem de dentro pra fora.


Aprendi a me amar como sou. Aprendi que depender das pessoas para realizar algumas tarefas não me torna pior ou melhor que ninguém. Aprendi que todos vão depender de alguma ajuda um dia. Aprendi que o amor e o respeito ao próximo devem prevalecer.

Portanto, seja qual for a dificuldade que está passando, não foque nos sentimentos ruins. Isso deve ser encarado como tempestade que passa. Sempre depois de um dia nublado o Sol aparece!”


Adriana Araújo, 32 anos – Deficiente visual, portadora de retinopatia pigmentar

Graduada em Direito e pós-graduada em Direito do Trabalho e Processo do Trabalho

Servidora pública do Tribunal Regional do Trabalho




Resumindo, o que negamos aumenta e persiste, o que acolhemos, integramos e modificamos. A doença é um desequilíbrio da saúde. Nosso dever é transformá-la, novamente, em saúde e não tentar jogá-la fora como se não fosse uma parte, mesmo que modificada, de nós mesmos.


Dra. Alice Antunes




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